Com poucos segundos, a cena deixa claras as razões que fizeram da atriz americana Allison Janney a vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante em “Eu, Tonya” este ano. Acompanhada da leitura do roteiro – um conjunto preciso de falas e descrições mínimas de expressões -, a atuação da atriz só se mostra ainda maior.
É esse tipo de apreciação ao roteiro, à direção, edição e atuação que a página “Script to screen” (Do roteiro para a tela, em inglês) gostaria de promover com publicações como essa. Criado no Instagram em setembro de 2017, o perfil alcançou mais de 62 mil seguidores nos meses seguintes sem nem ao menos dizer a que veio. Em sua descrição, apenas uma frase do diretor britânico Alfred Hitchcock (1899-1980) sobre as três coisas que dão vida a um grande filme: “o roteiro, o roteiro e o roteiro”.
A página é uma criação de John Kinnane, um adolescente americano de apenas 17 anos que se define como um aspirante a roteirista e diretor de cinema. “Concordo totalmente com ele [Hitchcock]. A história é tudo, é fundamentalmente o aspecto mais importante de um grande filme”, disse ele por e-mail ao Nexo. John é um dos sete irmãos à frente da produtora Kinnane Films.
Durante a produção de roteiros de filmes e curtas lançados pela produtora, surgiam questionamentos como “Estamos escrevendo muito diálogo?” ou “Tem muita descrição nesta cena?”. Para encontrar as respostas, o mais jovem dos Kinnane foi buscar cenas icônicas de propostas similares e seus roteiros.
“Sempre achamos esse processo extremamente útil e especialmente inspirador para observar das mais sutis até as grandes diferenças provocadas durante a filmagem pelos atores, diretores e roteiristas”, disse.
Os vídeos, antes usados apenas para fins educativos entre os irmãos, passaram a ser publicados no Instagram. O sucesso foi imediato.
“Acho que a razão pela qual as pessoas gostam dos meus vídeos é porque eles podem ser motivadores e instigantes. Eles podem mostrar como nossos diretores, roteiristas e atores favoritos têm todos um estilo especial e formas únicas de contar uma história. Acho que quem gosta de filmes pode apreciar o duro processo criativo de se fazer um filme. Eles mostram que esses filmes que todos estimamos começaram com algumas palavras em um papel e terminaram com belas cenas, atuações e edições.” John Kinnane Criador da página “Script to screen”
Como exemplo da relação entre atores, roteiro e direção, Kinnane cita uma cena do filme “Pulp Fiction” (1994), de Quentin Tarantino. Nela, os personagens Mia (Uma Thurman) e Vincent (John Travolta) passam de um diálogo para uma cena de dança que, para John Kinnane, é “a mais icônica da história do cinema”. Por trás dela, um roteiro “simples” formado por apenas duas linhas:
Mia e Vincent dança ao som de “You Never Can Tell” de Chuck Berry;
Eles fazem movimentos com as mãos enquanto dançam.
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Nos vídeos da sua página e canal, John recomenda observar as improvisações e os termos trocados do roteiro com aparente naturalidade pelos atores. “Isso é definitivamente a coisa mais interessante sobre esses vídeos”, diz.
Um exemplo é a atuação de Matthew McConaughey em “Clube de Compras Dallas”, de 2013, pelo qual ganhou o Oscar de melhor ator em 2014.
“Você consegue ver como cada ator executa sua fala de modos diferentes, e também quando eles acrescentam ou removem falas. Isso torna a cena melhor ou mesmo o filme como um todo. Além disso, eu acho que você passa a respeitar mais os atores por ver quanto trabalho eles colocam em seus papéis. Vê-los imergindo em seus personagens é algo incrível.” John Kinnane
O tipo de vídeo que Kinnane publica não é algo necessariamente novo ou inovador, nem único. A seu favor, estão o alcance permitido pelas redes e o crescente interesse por quem aprecia ou estuda cinema. Quatro meses depois de lançada a página, uma série com o mesmo nome e formato passou a rodar no canal oficial da Disney Pixar no Youtube, com as animações produzidas pelo estúdio. Mas sem relação com os Kinnane, diz John. “Estou sabendo. Não sei se eles foram influenciados pela minha página ou não, mas fico feliz de ver que essa tendência está crescendo”, disse.
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Por: Murilo Roncolato
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